Amigos, nós discutimos, criamos e descobrimos
literatura. O blog vem sendo alimentado com os assuntos propostos dos nossos encontros.
O conteúdo desta pesca foi escritores
malditos, o termo talvez cause estranheza, porém talento não falta. Mal
compreendidos ora injustiçados ora mesmo desconhecidos em seu tempo, viemos
aqui expor um pouco desse assunto tão amplo. (Desculpem a demora pela matéria, somos
universitários e nosso período de aulas voltou, mas faremos o possível para
sempre temos algo novo a vocês)
Poetas Malditos
A expressão foi ampliada para escritores, mas
primeiramente veio Poetas malditos, escritores
do romantismo se referindo a François Villon (1431, 1474) - além de ser poeta,
era também considerado boêmio e ladrão – foi pela primeira vez utilizada. Porém
a popularização do termo veio no fim XIX com uma obra de Paul Verlaine, "Les
poètes maudits"- Os poetas malditos - uma série de artigos de 1884-1888,
que se referia a escritores como Tristan Corbière, Rimbaud e Mallarmé.
Mas afinal o
que viria a ser um escritor maldito?
Escritores
malditos podem ser compreendidos como aqueles que tiveram suas obras censuradas
ou/e que seus estilos de vida não condisseram com o padrão social de suas
épocas, tendo tais obras também incorporado muito de seus cotidianos, falo de:
embriaguêses, abuso de drogas, sexo escancarado/orgias. Anexando ao tema,
soma-se aos escritores malditos os que atuaram/atuam de uma maneira independente,
longe de editoras e jornais, e também aqueles que tiveram um reconhecimento
póstumo.
Movimentos
Antes
de abrirmos o leque e falarmos propriamente dos escritores, ao estudar o tema
nos deparamos como dois movimentos ostentadores de Maldição: a Geração Beat e a Geração Mimeógrafo. Obedecendo a
cronologia:
A Geração
Beat ocorreu da metade da década de 1940 até o final da década de 1950, nos
EUA. Temos um mundo se recuperando da Segunda Guerra Mundial, A Guerra Fria,
com o mundo bipolarizado, e uma sociedade americana consumista, avessos a isso,
intelectuais americanos - escritores e poetas - se reuniam para viajar, usar
drogas, escutarem música -Principalmente Jazz, gênero influenciador nos beats
-, escreverem e promoverem orgias. Além do jazz com influência, eles buscavam
expansão e elevação do espírito, e muitos adotaram ideias do budismo, usando, para
tanto, inúmeras drogas, gerando também uma forte característica surrealista na
poesia. Na prosa, aparece um estilo de escrita espontâneo, visto muito bem em
On the Road de Jack Kerouac, obra mais famosa do movimento e um dos clássicos
americanos. Alguns outros escritores do movimento e suas obras foram: Allen
Ginsberg – Howl, 1956; J William Burroughs –The Naked Lunch, 1959; Gregory
Corso – "Marriege" (1960). Os beats viriam influenciar
posteriormente o movimento Hippie.
A
Geração Mimeógrafo ocorreu no Brasil durante a década de 1970, logo após o
tropicalismo, num período marcado pelo regime militar. O movimento envolveu
diferentes vertentes da arte, como, teatro, música, mas foi a literatura a
maior representante – inclusive ficou conhecida como poesia marginal. O nome do movimento vem da tecnologia aplicada,
como os autores, de acordo com a própria expressão, à margem de uma produção
formal, editoras, e também com a própria censura estabelecida pelo regime
político da época, de uma maneira independente reproduziam seus textos com
mimeógrafos e os distribuíam ou vendiam em portas de teatros, cinemas, livrarias.
Apenas em 1975 uma editora, Brasiliense, publicou o material de alguns poetas
marginais, no livro 26 poetas hoje, entre
esses escritores: Torquato Neto , Ana Cristina Cesar, Antônio Carlos de Brito (Cacaso).
Escritores
Malditos
Abordamos
vários escritores durante nossas pescas, não nos aprofundamos muito devido
amplitude do tema, então conheça um pouco de cada um, que a curiosidade vos
levem de pleno a eles.
Friedrich
Nietzsche: Referenciado por muitos e odiado também, Nietzsche teve seu sucesso
póstumo, enquanto vivo teve seus livros estagnados em livrarias. Considerado um
divisor na filosofia, abordou entre suas temáticas: crítica à razão e ao
cristianismo, valorização do indivíduo. De uma escrita de difícil compreensão,
tinha na sua estilística metáforas, aforismos e uma pesada carga poética. Em
1888, aos 44 anos teve um colapso mental e acabou morrendo em 1900 aos cuidados
de sua irmã. Entres seus livros mais conhecidos: Assim Falou Zaratustra - um
livro para todos e para ninguém; O Anticristo.
Charles
Bukowski: Alemão, mas criado em Los Angeles, teve uma infância problemática
devido sua relação com o pai e um grave tipo de acne, o que o constrangia. Foi
contista, poeta, romancista e também assinou roteiros para filmes, teve
reconhecimento ainda em vida. Sua escrita tinha um grande caráter biográfico e
estilo simples, relatando amores baratos, embriaguêses, uma vida avessa ao
american dream, carregado de solidão e
indiferença. No último dia 9 de março completaram-se 20 anos de morte do nosso
Velho Safado, que morreu aos 73 anos de
leucemia.
Nelson
Rodrigues: nosso anjo pornográfico, nascido em Pernambuco 1912. Jornalista,
dramaturgo, cronista, contista, romancista. Trabalhou durante anos como
repórter policial, adquirindo vasta experiência para incorporar em sua obra.
Nelson como dramaturgo foi quem inovou o teatro brasileiro, dando singularidade
a ele, temos como marco a peça
Vestido de
Noiva de 1943. Foi cronista esportivo, apaixonado pelo
Fluminense, Nelson Rodrigues foi grande responsável pela popularização do
FLAxFLU. Sua obra é fortemente
caracterizada pelo erotismo, abordando assuntos polêmicos como traição e
incesto, por isso teve muitas de suas peças censuradas pelo governo militar.
Chegou a assinar com o pseudônimo Suzana Flag na publicação chamada O jornal,
numa coluna chamada
meu destino é pecar,
com grande aceitação, em 1944.
Já no
jornal A última hora, assinou, com próprio nome, a coluna
A vida como ela é, crônicas escritas na
década de 1950, que mais tarde viria a ser tornar uma série televisiva na Rede
Globo devido ao sucesso. Morreu em 1980 com complicações cardíacas e
respiratórias.
Falamos
também de Henry Miller e sua obra
Trópico
de Câncer, Franz Kafka e seu sucesso póstumo, Oscar Wilde e seu
Retrato de Dorian Gray que foi utilizado
com prova num processo do qual foi acusado, Paulo Leminski e a poesia marginal,
Rimbaud e seu caso amoroso com Verlaine. A matéria poderia se prolongar muito
mais, porém que fique como isca a sua curiosidade os apenas citados.
E o que os pescadores concluem?
O termo Malditos
hoje é mais utilizado para caracterizar uma estilística e independência do que propriamente uma
conduta. Vivemos uma época de ampla expressão e de tentativa da quebra de
preconceitos, e esse tipo de autores não são tão mais descriminados ou
censurados quanto já foram um dia. e a proibição sempre foi uma propaganda.