Sou o que
popularmente é chamado de fantasma, assombração ou encosto. Mais tecnicamente espectro,
ectoplasma ou entidade, prefiro este último, apesar dos tantos outros não
ditos, os quais tentem ao pejorativo. Ou seja, sou uma alma pagã vagando na
falha entre os planos terreno e sobrenatural. Carl Sagan expor-me-ia como um
ser pertencente a uma 4ª dimensão, que quando ao arbítrio, também as
humanas e unicamente compreensíveis dos eixos tridimensionais x, y, z.
Não tenho
rosto, digitais e muito menos carne, não represento nenhum deus e nem sou um,
embora alguns teimem em dizer, não me responsabilizo por ser metafísica de ninguém.
Sim, posso me materializar, sou tido como energia pura enquanto no meu plano
habitual, e como já comprovado por Einstein: E=mc².
Sou um
embaralho de palavras, das quais crio, recrio e manipulo estórias. Tenho em
essência autores clássicos mundiais, grandes dicionários, confissões de
diários, parte da alma de um infeliz que quase morrera num acidente ao tentar
se matar e inclusive espíritos de floresta.
Ao certo não
sei diferenciar o real do fantástico, amiúde encarno em algum corpo para saciar
o vício de humanidade e para vos escrever como agora. Gosto de me encostar por
alguma esquina, sem pressa de partida ou preocupação com assaltos, és o privilégio
do invisível, a luz que por mim passa não se refrata mais que como no próprio
ar. Fico a observar potenciais histórias, quando fisgado sigo o rastro, nem
sempre tudo se aproveita, às vezes preservo o personagem, o enredo ora só a
sensação. Dos pedestres que alheios me atropelam ou até mesmo dos cachorros, fica
a impressão de fundir-me a alma, e do breve instante do contado, da mistura e
do esvoaçar-se, soma-me ao substrato delas parte.
Enfim, estou
por aí, colecionando, manufaturando e misturando palavras. Esbarrando-me com gente nos tropeços corriqueiros
do cotidiano, sabe? Na confusão das horas, na realidade quimérica dos sonhos. Identifico,
dissolvo e me reinvento no que possa ler. Sendo criador e criatura da
literatura, tenho como por verossimilhança o que traz o sentir. Expansões de
mundos, contrações de universos, o malabarismo da vida, és aqui Verbo Mar.
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