Seja super bem vindo!
Eis o Pescaria, grupo literário pioneiro nas terras do Araras, hoje Varjota – Ceará.
Grupo de caráter cultural, primando as Letras, denominado Pescaria, cujo objetivo é pescar indivíduos às letras e artes, ofertando-os o alimento – o peixe – da liberdade, o saber.

Venha pescar e ser pescador (a) da literatura junto da gente.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Saudosismo e amores

Produzido na 18° pesca.
Não me traga flores,
elas são caras e inúteis.
Não faça serenatas
são chatas e incomodam.
Não me escreva músicas,
a menos que a cante em rock.

Não me leve para passear,
odeio sorvete, pipoca e algodão doce.
Não andaremos em rodas gigantes,
pedalinhos ou duplas-bicicletas.
Isso é patético demais.

Não precisa me olhar nos olhos,
nem sempre me diga a verdade,
não segure minha mão.
Já sei andar sozinha.

Não me trate bem,
em me beije sempre.
Não diga que me ama.
É clichê demais e todos já tentaram.

Por vezes pode me agredir,
me morder, ou cuspir.
Seja bruto comigo.
Me faça sua piada.
Me chame de palavrões.
Me trate como sua puta.
Quem sabe eu nunca te deixe
ainda que nunca te ame.

O maior prazer do homem
É ter no desejo
Seu mais afiado algoz.

L.P 29/03/14

Quero! Posso?

Um dia ouvi dizer
"querer é poder"
Então eu posso?

Quero possuir fortuna,
mas não possuo.
Quero voltar a infância,
mas não dá.
Quero gozar liberdade,
mas não deixam.
Quero conhecer a morte,
mas não devo.
Quero o ontem de novo,
e ele não volta.
Quero eternizar uma vida
ainda assim ela se encerra.
... Se encerra como tudo mais que eu penso querer

Assim me questiono:
Como posso o que quero
se não posso querer?

Luna Pescada.

Insonia

Quando anoitece eu quero
Eu só quero.
E o querer se afoga em mim.
Quero fazer tudo
Quero ir mais longe
Quero o que não tenho
Quero saltar de um prédio e voar
Quero correr pelas ruas
Quero caminhar devagar 
Quero amar outra vez
Quero ver a verdade e zombar de sua cara
quero morrer e viver sem recorrer ao sonho
Quero o tudo e o nada
Mas a realidade em mim
Me questiona meu próprio querer
Então forço os olhos e durmo
Para o dia enfim amanhecer.

Luna Pescada.

domingo, 30 de março de 2014

O meu escrever

Escrevo não como hobby;
Ou porque gosto de escrever;
Não é uma obrigação;
É uma vontade, forma de expressão;
É a coragem, a revelação;
É a necessidade querendo falar mais alto;
É o meu pensar que se transforma em desabafo;
É a inspiração motivando a escrever;
É a criatividade dando asas a imaginação;
É o meu interior rabiscando minha paixão;
É a minha alma deixando transparecer
Cada sentimento que há no meu coração.

Lica Escama

Eu não quero fala de amor

Aperto de mãos,
Beijo no rosto;
Abraço sem intenção,
Olhares sem direção.
Conversas, de conhecer;
Papo vai, Papo vem;
Não afim de ninguém;
Mas olhares se encontram;
E conversam sem a boca usar;
Aproximam-se sem perceber;
Bocas se encontram, mas há algo a dizer:
-Isso é amor?
E o silêncio se manifestou.
-Eu não quero falar de amor.
E o beijo calou a minha eterna busca.

Lica Escama

Agasalho incolor


Sob a couraça,
Segue seu fluxo a tristeza alerta,
E como impacto que a penetra,
É feitiço que escorre,
Do subterrâneo da epiderme esbelta.
Pele esbelta,
És apenas uma ferida aberta,
Que exalando vulcânicos tremores,
Percebe o tórax mergulhado,
Nos próprios horrores.
E embebida por esse abalo,
Garganta engole eflúvios,
Com Nó e Gemido requebrando ao se plasmar,
Conduzindo o pescoço à dança dissonante,
Regada à progressão do corpo em plena dor.
É no teatro da tristeza,
Que decorre o Rosto amassado,
Quem como sanfonado papel,
Interpreta um papel,
No qual exprime sua história para maquiagem de lágrimas.
Sem nunca borrar,
Pois distorcida por natureza o é,
A máscara incolor envolve e amansa o rosto,
Na textura de seu abraço cálido,
Ao delinear estranho agasalho.

Guajupiá EmTerra'fogado

sábado, 29 de março de 2014

A saudade de um tempo passado

Quando eu era menino
Tudo era diferente
O carrinho era de lata
O remédio era um chá
O comer, uma cerimônia
A roupa já não suficiente
A casa, tijolos no chão

Quando eu era menino
Tudo era importante
Os amigos eram pra sempre
A escola, uma sopa quente
A tia era uma prima
O livro, um mundo distante
Meu sertão, um paraíso

Quando eu era menino
Tudo era proibido
 A liberdade era vigiada
A noite, ninguém de pé
Os palavrões eram punidos
Beijo, só na novela
 Os pais nunca erravam

Quando eu era menino
Tudo tinha mais valor
O cantar dos passarinhos
A moça do Mágico de Oz.
As moedas da mesada
O sabor dos picolés
A redinha remendada

Quando deixei de ser menino
Nada mais é diferente
Nada mais é importante
Nada mais é proibido
Nada mais é valioso
Só me resta a saudade
Herança do tempo que passa

Bento Biquara

17 de março de 2014


Questiono o meu próprio querer

Quero sentir-me alegre, feliz por estar só
Mas a solidão não me cai bem
E assim, fico triste sem querer
O que me faz sentir vontade de alguém

Alguém pra conversar e encher meu nada
Realizar a vontade de me expressar
Pois não gosto de conter meu silêncio
Mas sufoco meu desejo de falar

Eu quero sentir-me alegre de verdade
Brilhar o olho numa sensação de extasia
Como uma criança em “feliz aniversário!”

Mas a felicidade só é possível na liberdade
E eu posso ser livre, mas me prendo na fantasia
E preso sendo, sinto-me como um grito solitário

Bento Biquara

22 de fevereiro de 2014

18ª Pesca Literária

Último sábado de março de 2014, nós - Pescaria, completamos a "maioridade" de encontros, exatos 18, neste 29 de março de 2014. Como presença inédita, recebemos a acadêmica de Ciências Contábeis, Bia Rodrigues, em mais uma de nossas manhãs de sábado.
Debatemos e discutimos a o conceito de literatura regional, voltando principalmente tal discussão para a literatura nordestina e com aprofundamento especial na geração de 30, formada por Rachel de Queiroz, José Américo, Graciliano Ramos e outros. No mais, apresentações de peixes, uma música aqui, outra acolá e mais uma edição do desafio literário.

Continuamos nesse barco, pescando, cada vez mais a nós mesmos!








Pesca literário-teatral em Sobral

28 de março de 2014, um dia após, ao que no calendário mundial marca a comemoração das artes cênicas (27 de março), nós do grupo literário Pescaria mobilizamos mais um encontro literário, ou pesca literária em Sobral, tendo mais uma vez como palco a praça Quirino Rodrigues.
Fazendo jus a data, como tema principal da noite abordamos o teatro, a dramaturgia e uma noite repleta de atividades inéditas pra nós pescadores, pois aplicamos alguns jogos teatrais baseados nas escolas de Augusto Boal e Viola Spolin, com conceitos de teatro imagem e improvisação.
Contamos com a presença de pescadores cativos varjotenses de nosso movimento: Mailson Furtado, Yane Cordeiro, Felipe Ximenes, Erineu Ricardo, Luana Sales e Geovania Rodrigues. Mais uma vez contamos com a presença do poeta Leo Prudêncio e dos acadêmicos de Psicologia Romeu Parente, Dam Montenegro e Benedito Gomes.

Sem dúvidas, uma noite única!
Confira... 










Uma singela homenagem do poeta coreauense

ao Pescaria

Pegue, pesque (e peque) um poema 
de qualquer tema e intenção 
que caiba na palma da mão, ou não 
morno ou apaixonado
sonhado ou desiludido 
- uma canção 
- uma brincadeira 
- um chorar desmedido 
- um riso frouxo 
Um poema, irmão! 
Cê sabe o que é isso? 
não importa se é tudo em vão 
o poema não liga 
não se preocupa ele somente vem 
E ai de você se não o receber! fica entalado
 num lugar entre a goela e o coração 
e uma vez falado perde-se o dono, então 
Adotado pelo vento 
esse deus-silencioso 
segue e se esvanece para de onde 
não-se-sabe-ter-vindo 
E toda vez que ele chega e diz adeus 
esse meu saudosismo estranho 
e infantil demais da conta 
diz em palavras doces: 
- Volte amanhã às três.

Benedito Gomes Rodrigues

segunda-feira, 24 de março de 2014

Entrementes

Vá à contramão dos passos
De preferência
Descalço
À procura do inxergável.
Descaminhe
As palavras
Os sonhos
As inibições.
Tateie
Que o pequeno
Tantas vezes desprezado
Se agiganta ao invisível.

Barquinho de papel

Produzido na 17ª pesca
Ó, fraco
Embebido pelo oposto
A correnteza
Vai barquinho de papel.
Ao sopro e ao vento
Passivo dos movimentos
Desista brincadeira de papel.
Eu te navego
Subindo o rio
E naufragando meus sentimentos
Ó, desilusões no papel.
Cartas, bilhetes, rascunhos: Origamis.
Ao sepulcro do rio
Afunde minhas palavras
Que vivem no papel.

Aos olhos

Produzido na 16ª Pesca
A sombra da sobrancelha me sobra
É penumbra na vista embaçada
Na janela e no convexo
O caminho da alma.
Por onde me chega
E com quem desbravo
A vida, a morte, o traço
Ora tão curiosos
Ora tão cansados
Eu os prefiro afogados
A indiferentes como agora.
E quando os vejo
Não me calam
Fica o eco
Do tudo e do nada.
Por onde me chega
Por onde me esvai
Que entre luz
Que não falte paz.

Lógica etílica

Produzindo na 15ª pesca
Não tão só
A matemática, o pão e a Morte
São lógicos
Cabe também ao vinho
Na sua liberdade embriagada
Dar exposição à ferida
Onde habita o ser.
Se engole p’ra derramar
A paixão
O delírio
O medo
O belo.
Tidos em segredos
Sequer propositais.
Para na fluidez a forma
No paladar o sentido
E no cambalear o equilíbrio.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Escritores Malditos

Amigos, nós discutimos, criamos e descobrimos literatura. O blog vem sendo alimentado com os assuntos propostos dos nossos encontros. O conteúdo desta pesca foi escritores malditos, o termo talvez cause estranheza, porém talento não falta. Mal compreendidos ora injustiçados ora mesmo desconhecidos em seu tempo, viemos aqui expor um pouco desse assunto tão amplo. (Desculpem a demora pela matéria, somos universitários e nosso período de aulas voltou, mas faremos o possível para sempre temos algo novo a vocês)

Poetas Malditos

A expressão foi ampliada para escritores, mas primeiramente veio Poetas malditos, escritores do romantismo se referindo a François Villon (1431, 1474) - além de ser poeta, era também considerado boêmio e ladrão – foi pela primeira vez utilizada. Porém a popularização do termo veio no fim XIX com uma obra de Paul Verlaine, "Les poètes maudits"- Os poetas malditos - uma série de artigos de 1884-1888, que se referia a escritores como Tristan Corbière, Rimbaud e Mallarmé. 

Mas afinal o que viria a ser um escritor maldito?
 
Escritores malditos podem ser compreendidos como aqueles que tiveram suas obras censuradas ou/e que seus estilos de vida não condisseram com o padrão social de suas épocas, tendo tais obras também incorporado muito de seus cotidianos, falo de: embriaguêses, abuso de drogas, sexo escancarado/orgias. Anexando ao tema, soma-se aos escritores malditos os que atuaram/atuam de uma maneira independente, longe de editoras e jornais, e também aqueles que tiveram um reconhecimento póstumo.

Movimentos

Antes de abrirmos o leque e falarmos propriamente dos escritores, ao estudar o tema nos deparamos como dois movimentos ostentadores de Maldição: a Geração Beat e a Geração Mimeógrafo. Obedecendo a cronologia: 
          A Geração Beat ocorreu da metade da década de 1940 até o final da década de 1950, nos EUA. Temos um mundo se recuperando da Segunda Guerra Mundial, A Guerra Fria, com o mundo bipolarizado, e uma sociedade americana consumista, avessos a isso, intelectuais americanos - escritores e poetas - se reuniam para viajar, usar drogas, escutarem música -Principalmente Jazz, gênero influenciador nos beats -, escreverem e promoverem orgias. Além do jazz com influência, eles buscavam expansão e elevação do espírito, e muitos adotaram ideias do budismo, usando, para tanto, inúmeras drogas, gerando também uma forte característica surrealista na poesia. Na prosa, aparece um estilo de escrita espontâneo, visto muito bem em On the Road de Jack Kerouac, obra mais famosa do movimento e um dos clássicos americanos. Alguns outros escritores do movimento e suas obras foram: Allen Ginsberg – Howl, 1956; J William Burroughs –The Naked Lunch, 1959; Gregory Corso – "Marriege" (1960). Os beats viriam influenciar posteriormente o movimento Hippie.
           A Geração Mimeógrafo ocorreu no Brasil durante a década de 1970, logo após o tropicalismo, num período marcado pelo regime militar. O movimento envolveu diferentes vertentes da arte, como, teatro, música, mas foi a literatura a maior representante – inclusive ficou conhecida como poesia marginal. O nome do movimento vem da tecnologia aplicada, como os autores, de acordo com a própria expressão, à margem de uma produção formal, editoras, e também com a própria censura estabelecida pelo regime político da época, de uma maneira independente reproduziam seus textos com mimeógrafos e os distribuíam ou vendiam em portas de teatros, cinemas, livrarias. Apenas em 1975 uma editora, Brasiliense, publicou o material de alguns poetas marginais, no livro 26 poetas hoje, entre esses escritores: Torquato Neto , Ana Cristina Cesar, Antônio Carlos de Brito (Cacaso).   

Escritores Malditos

          Abordamos vários escritores durante nossas pescas, não nos aprofundamos muito devido amplitude do tema, então conheça um pouco de cada um, que a curiosidade vos levem de pleno a eles.
          Friedrich Nietzsche: Referenciado por muitos e odiado também, Nietzsche teve seu sucesso póstumo, enquanto vivo teve seus livros estagnados em livrarias. Considerado um divisor na filosofia, abordou entre suas temáticas: crítica à razão e ao cristianismo, valorização do indivíduo. De uma escrita de difícil compreensão, tinha na sua estilística metáforas, aforismos e uma pesada carga poética. Em 1888, aos 44 anos teve um colapso mental e acabou morrendo em 1900 aos cuidados de sua irmã. Entres seus livros mais conhecidos: Assim Falou Zaratustra - um livro para todos e para ninguém; O Anticristo.   
          Charles Bukowski: Alemão, mas criado em Los Angeles, teve uma infância problemática devido sua relação com o pai e um grave tipo de acne, o que o constrangia. Foi contista, poeta, romancista e também assinou roteiros para filmes, teve reconhecimento ainda em vida. Sua escrita tinha um grande caráter biográfico e estilo simples, relatando amores baratos, embriaguêses, uma vida avessa ao american dream, carregado de solidão e indiferença. No último dia 9 de março completaram-se 20 anos de morte do nosso Velho Safado, que morreu aos 73 anos de leucemia.
         Nelson Rodrigues: nosso anjo pornográfico, nascido em Pernambuco 1912. Jornalista, dramaturgo, cronista, contista, romancista. Trabalhou durante anos como repórter policial, adquirindo vasta experiência para incorporar em sua obra. Nelson como dramaturgo foi quem inovou o teatro brasileiro, dando singularidade a ele, temos como marco a peça Vestido de Noiva de 1943. Foi cronista esportivo, apaixonado pelo Fluminense, Nelson Rodrigues foi grande responsável pela popularização do FLAxFLU. Sua obra é fortemente caracterizada pelo erotismo, abordando assuntos polêmicos como traição e incesto, por isso teve muitas de suas peças censuradas pelo governo militar. Chegou a assinar com o pseudônimo Suzana Flag na publicação chamada O jornal, numa coluna chamada meu destino é pecar, com grande aceitação, em 1944.  Já no jornal A última hora, assinou, com próprio nome, a coluna A vida como ela é, crônicas escritas na década de 1950, que mais tarde viria a ser tornar uma série televisiva na Rede Globo devido ao sucesso. Morreu em 1980 com complicações cardíacas e respiratórias.
           Falamos também de Henry Miller e sua obra Trópico de Câncer, Franz Kafka e seu sucesso póstumo, Oscar Wilde e seu Retrato de Dorian Gray que foi utilizado com prova num processo do qual foi acusado, Paulo Leminski e a poesia marginal, Rimbaud e seu caso amoroso com Verlaine. A matéria poderia se prolongar muito mais, porém que fique como isca a sua curiosidade os apenas citados.

            E o que os pescadores concluem? 

O termo Malditos hoje é mais utilizado para caracterizar uma estilística e independência do que propriamente uma conduta. Vivemos uma época de ampla expressão e de tentativa da quebra de preconceitos, e esse tipo de autores não são tão mais descriminados ou censurados quanto já foram um dia. e a proibição sempre foi uma propaganda.