Fernando, ou melhor, ‘nando,
gosto mais, parece mais moderno, como quis me inspirar pra ser.
Nasci na época errada, pelo menos
acho. Embora melhor numa época errada, do que nem nascer. Apesar de não nascer
quando queria, vivo como queria, ou como quero, afinal, vivo aqui. Não só no
pretérito, mesmo ele sendo perfeito, imperfeito, mais que perfeito, prefiro o
presente, mesmo que desastroso. Sou do passado, mas vivo o presente. Sou
distante, mas vivo perto sei lá de quem ou quê, mas sei que vivo. Faço-me hoje
de pescador, quer dizer, sempre fui um, afinal nasci somente pra isso. Como disse,
sou moderno, daqueles mesmos que lá da década de 20 viam a cidade correr dentro
de um bonde, hoje a única que vejo são peixes correrem lá por fora da Canoa,
embora andar de Canoa por aqui não seja moderno coisa nenhuma, pelo menos dizem
por aí, afinal no Egito Antigo já tinham canoas, mas isso não vem ao caso.
Foi na escola, lembro remotamente,
onde me ensinaram pescar, com aqueles desenhozinhos que vinham na sopa, que
depois de alguns dias que comi, disseram-me que se chamavam letras. Pesquei
algumas letras com a colher de plástico azul na caneca e depois de tirar três
delas, alguém me disse que tinha escrito CÉU e então me assustei e fiquei
maravilhado, afinal, depois de pescas de tantas coisas, pela primeira vez eu
tinha pescado o CÉU, coisa que até hoje nunca ouvi ninguém falar, e melhor
ainda com letras.
Depois de ter pescado CÉU, decidi
que poderia pescar outras coisas. Se numa sopa podia pescar o CÉU, que era um
lugar que usualmente não se encontra muitas letras, imagine se tentasse pescar
em livros, que foi onde me disseram que todas as letras moravam. Assim virei pescador.
Assim digo que as melhores pescas, com certeza, são
as mais rendosas quanto a quantidade de peixes. Mas sem dúvidas as mais
inesquecíveis são aquelas que alguma dificuldade é encontrada. Seja uma
tempestade, seja a dúvida de onde jogar a rede, seja o simples fato de duvidar.
Desta forma, aprendi a pescar. Sou assim um pescador áspero, àquele que quem o
puder conhecer, sentirá o atrito em minha pesca, e consequentemente em meus
peixes, seja como vocês de fora dizem, poesia, prosa ou verso.
Assim busco as tempestades, as
dúvidas, os contrapontos, a asperidade, o ritmo desritmado, o progresso voltado
ao início, a quebra da ação, eis o ‘nando.
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